Richard M. Stallman no IC/Unicamp

Your freedom as a user of computers and cell phones
Richard M. Stallman
31/05 às 16h00 na sala CB06

Resumo: The Free Software Movement campaigns for computer users’ freedom to cooperate and control their own computing. The Free Software Movement developed the GNU operating system, typically used together with the kernel Linux, specifically to make these freedoms possible.
Sobre o palestrante: Dr. Richard Stallman launched the free software movement in 1983 and started the development of the GNU operating system (see http://www.gnu.org) in 1984. GNU is free software: everyone has the freedom to copy it and redistribute it, with or without changes. The GNU/Linux system, basically the GNU operating system with Linux added, is used on tens of millions of computers today. Stallman has received the ACM Grace Hopper Award, a MacArthur Foundation fellowship, the Electronic Frontier Foundation’s Pioneer Award, and the the Takeda Award for Social/Economic Betterment, as well as several doctorates honoris causa, and has been inducted into the Internet Hall of Fame.

Local: A sala CB06 fica no Ciclo Básico I.

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APROPRIAÇÃO TECNOLÓGICA POR POVOS TRADICIONAIS

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Na busca por uma abordagem descolonial para o tratamento das implicações sociais e políticas do imperativo do uso da internet e das tecnologias digitais, e da formatação e abertura de novos mercados para provimento de conexão, de telefonia móvel e de serviços de internet, analisaremos duas experiências contemporâneas de apropriação tecnológica realizadas por povos tradicionais no Brasil. Acreditamos que estas experiências oferecem um contraponto crítico ao paradigma da inclusão, o qual aparece como conceito-chave para projetos e iniciativas que, motivados por um discurso benevolente e humanitário, dirigem-se a áreas desconectadas do Sul Global como fronteira para expansão de sua base de “usuários”. A apresentação será baseada na descrição dessas duas experiências que combinam etnografia, colaboração (trabalho compartilhado entre pesquisadores e as comunidades envolvidas), desenvolvimento técnico e implementação tecnológica: uma realizada na Reserva Extrativista do Alto do Juruá (AC), em torno da instalação de uma rede de radiofonia e do desenvolvimento de uma solução técnica para a transmissão de dados digitais em Ondas Curtas; outra realizada na Aldeia Wede’rã (Povo Xavante – A’uwẽ Uptabi), Terra Indígena Pimentel Barbosa (MT), em torno da instalação de um laboratório de edição de áudio e de vídeo em software livre em uma escola e do desenvolvimento de um arquivo digital para internet.

PALESTRANTE: Francisco Antunes Caminati (Centro de Museologia, Antropologia e Arqueologia/Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente/UNESP)
LOCAL: Sala Multiuso (IFCH/Unicamp)
DATA: 21/10/2016
HORÁRIO: 10h

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Encontro de Grupos de Pesquisa CTS

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Carta aberta de pesquisadores e professores membros de grupos de pesquisa em Ciência e Tecnologia da Unicamp

Carta aberta de apoio à ocupação da reitoria da Unicamp e contra o golpe

Desde a noite do dia 10 de maio, após decisão em assembleia, estudantes ocupam a reitoria da Unicamp em protesto contra cortes no orçamento da universidade, contra o golpe de Estado e em favor de políticas inclusivas para populações historicamente marginalizadas. Apoiamos a ocupação pela relevância indiscutível dessas reivindicações e por sua capacidade de denunciar a gravidade de medidas já tomadas ou em estudo seja pelo governo do estado de São Paulo, ou pelo governo interino ilegítimo.

Identificamos no discurso do grupo que tomou o poder – sem a legitimidade do voto – um grave risco à liberdade de manifestação e de expressão, com tentativas de silenciamento e ameaça de criminalização às manifestações mais diversas sobre a atual situação do país. Também são claros os sinais de que estamos sendo direcionados para uma precarização ainda mais intensa da pesquisa científica e da educação nas universidades públicas, especialmente, pelas questões que listamos a seguir.

É Golpe
O controverso processo que levou ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff foi articulado, com apoio do Poder Judiciário, por conhecidos atores da política brasileira que buscavam a intensificação do neoliberalismo, com a minimização da presença do estado em várias esferas e o fortalecimento e rearticulação de interesses de mercado.

Para mobilizar e angariar o apoio da opinião pública, contou com amplo apoio do oligopólio midiático, que tem como objetivo voltar a ser privilegiada na distribuição de verbas publicitárias do governo e ver enterradas as discussões de um projeto de democratização da mídia. Essa parcialidade na cobertura foi explicitada inclusive por veículos da imprensa internacional. É grave a ruptura de conquistas alcançadas por movimentos de minorias nas últimas décadas que já começa a se concretizar com esse projeto ilegítimo de governo.

Por todo esse cenário, reconhecemos sim como golpe político a retirada de poder de um governo estabelecido por meios democráticos e constitucionais, assim como o redirecionamento violento para um projeto político que interessa apenas a algumas parcelas da sociedade.

Medo e silenciamento

Em suas primeiras entrevistas, o ministro da Justiça e Cidadania do governo interino e ex-integrante da pasta de segurança pública do governo de São Paulo, Alexandre de Moraes, anunciou a intenção de identificar participantes de manifestações contra o impeachment, sob alegação de risco para a população e alertou: “se eles se tornarem violentos, serão tratados como criminosos, não como manifestantes”.

Moraes tem em seu currículo atuações contestáveis, como a forte repressão policial às recentes ocupações de escolas estaduais por secundaristas e também a movimentos sociais. Durante sua gestão, o governo paulista construiu um cenário de falta de transparência absoluta, negando acesso a dados e a informações públicas sobre as atividades da Polícia Militar, decretando sigilo sobre boletins de ocorrências e impedindo que a sociedade acompanhe processos judiciais sobre casos de violência de agentes do Estado. Mesmo Estado onde somente em 2015 as polícias mataram, em média, duas pessoas por dia, de acordo com números da própria secretaria estadual.

Outra decisão arbitrária que nos reforça o sentimento de estarmos num estado de silenciamento e medo é o anúncio de revisão do decreto 8.711 que regulamenta o Marco Civil da Internet. A lei, aprovada há dois anos, atende pleitos de movimentos sociais em relação ao papel democrático da rede, mas desagrada as operadoras de telefonia ao tratar da questão da neutralidade.

Para completar o ambiente ameaçador, houve a exoneração do presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) mesmo com a legislação garantindo ao nomeado um mandato de quatro anos. Em seu lugar, foi nomeado antigo colaborador do presidente interino, com o objetivo de “distensionar a relação entre governo e imprensa”. Essa exoneração sem prerrogativa legal coloca em discussão a autonomia estabelecida por lei à essa entidade e a independência dos canais públicos de comunicação no país.

Conectam-se a esse cenário os recorrentes casos de perseguição e demissões de professores e intelectuais por suas opiniões politicas ou o impedimento de realização de assembleias para o debate sobre o cenário politico atual. Tal situação espelha também os resultados, a primeira vista pontuais e espalhados pelo pais, da intensa produção midiática de visões conservadoras, intolerantes e antidemocráticas. Esse nível mais local de produção do medo e do silenciamento funciona num ciclo de retroalimentação com a implementação das medidas deste governo ilegitimo.

Por tudo isso, denunciamos a tentativa de limitação de liberdades individuais e coletivas.

Precarização e privatização nas universidades

A precarização do ensino e pesquisa nas universidades públicas é realidade gerada por recorrentes cortes de orçamentos e reajustes de salário abaixo da inflação, o que prejudica a garantia das leis trabalhistas, além de refletir também questões de gestão de orçamentos e recursos. Ignorando essas questões e com a justificativa de dar maior fôlego às universidades afetadas pela queda de arrecadação de impostos, o ministro da educação do governo interino, Mendonça Filho, já anunciou que pretende apoiar a cobrança de mensalidades em cursos de extensão e pós-graduação profissional nas universidades públicas que assim optarem.

A medida, sustenta o ministro, daria fôlego aos caixas das universidades, afetados nos últimos anos em decorrência da queda na arrecadação de impostos. Mendonça Filho também já se posicionou contra as cotas raciais em várias oportunidades e seu partido, o DEM, chegou a ingressar com ação no STF contra as cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB), primeira a adotar o sistema.

Reconhecemos a importância do sistema de cotas para buscar um maior equilíbrio no acesso à educação neste país e rechaçamos qualquer tentativa de recuo neste programa que nos últimos anos levou mais de 150 mil jovens negros à universidade pública, e que ainda assim, permanece com uma baixa representatividade de minorias. Também nos posicionamos contra a tentativa de privatizar o ensino público por entender que a educação é um direito garantido pela constituição. Alertamos ainda para o forte risco de redução nas receitas de apoio e incentivo à pesquisa, a partir de especulações recém lançadas na mídia pelo governo de São Paulo de desvinculação de recursos para a Fundação de Apoio à Pesquisa de São Paulo, a Fapesp.

Dissolução de ministérios

Para responder às críticas de crescimento da máquina pública nos 13 anos de governo do PT, o presidente interino realizou a redução do número de ministérios de 32 para 23. Incorporou e unificou pastas com propostas, procedimentos, objetivos e missões bem distintas, como foi o caso da Ciência, Tecnologia e Inovação e Comunicações, além de Cultura e Educação, ministérios que dialogam diretamente com as áreas de pesquisa e ensino onde nos encontramos. Entendemos que a construção e consolidação de uma sociedade democrática e justa acontece a partir de compromisso permanente com a Educação e com a Ciência. Por isso, afirmamos que não podemos assistir a novas perdas nos recursos destinados a essas áreas, que trarão como consequência retrocesso e atraso.

Ocupa tudo: Unicamp, escolas, órgãos públicos

Diante de todo o cenário que apresentamos, reconhecemos e apoiamos as propostas apresentadas pelos movimentos de ocupação da reitoria desde o dia 10/5. Estendemos nosso apoio às ideias trazidas pelas ocupações secundaristas que se espalham pelo país e que foram inspiração para essa ocupação. E também a de órgãos públicos afetados diretamente pelas decisões arbitrárias do governo interino, como as diversas sedes da Funarte, onde centenas de servidores protestam contra a extinção do Ministério da Cultura. O movimento dos estudantes da Unicamp tem preservado o espaço público, promovido discussões sobre educação e democracia e está aberto à negociação. Como os alunos, entendemos que o corte de orçamento proposto pela reitoria trará perdas significativas para a qualidade de ensino na universidade e acreditamos que o deficit orçamentário possa ser equacionado com outras propostas de gestão e maior transparência e discussão com as comunidades diretamente afetadas.

Apoiamos as reivindicações para a implementação do projeto de cotas étnico-raciais, assim como ações para ampliação da permanência estudantil. E, sem abandonar as críticas ao governo eleito e afastado, denunciamos, ao lado dos estudantes da Unicamp, o golpe político em curso no país, que ameaça avanços sociais importantes e a democracia conquistada com tanta luta por brasileiras e brasileiros.

Pesquisadores e professores membros de grupos de pesquisa em Ciência e Tecnologia da Unicamp
Ana Paula Camelo (GEICT / UNICAMP); Cristiane Dias (e-Urbano e DiCiT/UNICAMP); Diego Vicentin (CTeMe/UNICAMP); Emerson Freire (CTeMe / UNICAMP); Laymert Garcia dos Santos (CTeMe / UNICAMP); Márcia Tait (Gapi, Coletivo Sementeia e Grupo de Filosofia, Sociologia e História da C&T/IEA); Marko Monteiro (GEICT / UNICAMP); Marta Kanashiro (ICTS / UNICAMP); Paulo José O. M. Lara (ICTS – LAVITS – LABJOR/UNICAMP); Pedro P. Ferreira (CTeMe / UNICAMP); Rafael Alves da Silva (CTeMe / UNICAMP); Rafael Evangelista (ICTS / UNICAMP); Raquel Almeida (ICTS/UNICAMP); Ricardo Whiteman Muniz (Labjor / UNICAMP); Sarah Schmidt (ICTS/UNICAMP); Vitor Chiodi (ICTS / UNICAMP);

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Malthusianismo, ou: “ok, mas e as baratas?” (Viveiros de Castro 2012)


OBS.: Este post é a transcrição de parte da resposta de Eduardo Viveiros de Castro a uma questão do público durante a mesa de abertura (Modos de Existência) do evento Informação, tecnicidade, individuação: a urgência do pensamento de Gilbert Simondon, ocorrido no IFCH/Unicamp entre 2 e 4 de abril de 2012.

Normalmente, os nossos amigos materialistas – históricos, vulgares ou dialéticos – são todos malthusianos para as outras espécies, mas não para o homem. Ou seja, todo materialista que se respeita (não estou falando evidentemente dos sobrenaturalistas) acredita que os ratos e as baratas estão sujeitas à dinâmica malthusiana. Mas se estão realmente, então, nós também estamos, ou, então, eles não estão também. Porque, senão, nós temos um problema, a espécie humana tem um poder sobrenatural, a saber: a tecnologia é capaz de nos tirar de qualquer coisa. Quando eu falo de malthusianismo, não falo só de explosão demográfica. Eu falo, em geral, na questão de esbarrar numa barreira, bater num muro termodinâmico qualquer, seja ele população, seja recurso.

Eu acho que o malthusianismo coloca uma questão curiosa, porque, na verdade, a crítica malthusianista, normalmente, funciona como um desvio pelo caminho da graça divina. Os humanos têm alguma coisa especial que os distingue. O próprio do homem é escapar dos parâmetros termodinâmicos do planeta, graças à tecnologia. Eu acho que isso é um problema interessante! Estou apenas constatando que a crítica ao malthusianismo pára no homem, nas sociedades humanas. Quando chega nos ratos e nas baratas, nós achamos que eles estão sujeitos às constrições malthusianas. Por quê? Talvez, não do ponto de vista demográfico, mas me parece que essa ideia de que o capitalismo pode tudo ficou muito profundamente gravada na nossa cabeça.

Penso na famosa frase do Marx: “A humanidade só se coloca problemas que pode resolver”. Sim, mas nem todos os problemas colocados à humanidade são colocados por ela, e alguns ela não pode resolver. Se ela pudesse resolver todos, nós não nos extinguiríamos nunca e, salvo engano, nós vamos nos extinguir. Mas nós quem? Essa é uma questão também: o que você chama de nós? A espécie não existe, a espécie é uma categoria flatus vocis. Toda vez que me falam de malthusianismo, eu falo: “Ok. Mas e as baratas, e os ratos? Por que só nós vamos escapar dessa?” A menos que consigamos, de fato, o star trek: pegar o avião e ir pra outro planeta. Ou então não somos materialistas. Esse é um problema que me angustia e para o qual não tenho a solução: como é que nós fazemos com essa questão?

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Anedota etnológica: “como somos idiotas” (Viveiros de Castro 2012)


OBS.: Este post é a transcrição de parte da resposta de Eduardo Viveiros de Castro a uma questão do público durante a mesa de abertura (Modos de Existência) do evento Informação, tecnicidade, individuação: a urgência do pensamento de Gilbert Simondon, ocorrido no IFCH/Unicamp entre 2 e 4 de abril de 2012.

Eu tinha um índio amigo meu, Araweté, que era cego, quase cego. E ele uma vez estava mexendo nas minhas coisas – como eles fazem sempre – e pegou uma esponja de banho (essas esponjas sintéticas de banho). Ele nunca tinha visto uma, porque, inclusive, ele não via nada, era cego. E como nunca tinha tocado em uma, ele pegou aquilo e ficou… “O que é isso?”. Eu expliquei o que era. Ele pensou, pensou… e falou assim, só falou isso: “Como nós somos idiotas” (como “nós” índios). Só falou isso: “Nós somos bobos mesmo”; “A gente é mesmo idiota”. Entenda-se como quiser. Como quem diz: “Jamais pensaria numa coisa tão absurda!”; “Porque alguém inventaria uma coisa sintética?”

É como a experiência que eu tive quando eu fui para o Japão e vi os vasos sanitários japoneses. Aí eu pensei comigo: “Como nós somos idiotas”. Eles têm temperatura, chuveirinhos e máquinas… Enfim, é um objeto que não dá pra descrever aqui sem entrar em detalhes pouco agradáveis. Mas a sensação que eu tive diante de um vaso sanitário japonês é exatamente igual à do Araweté cego pegando uma esponja de banho e dizendo “Como nós somos idiotas”. Não sei se é a mesma coisa que o Davi deve ter pensado: “Como nós somos idiotas”.

Eu acho que é impossível se relacionar com outro mundo sem ironia. É muito difícil. Não quer dizer com maldade, mas é impossível você não ter uma sensação subitamente de que alguém é idiota. Você não sabe quem, mas alguém.

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A paixão do índice e a má consciência antropológica (Viveiros de Castro 2012)


OBS.: Este post é a transcrição de parte da resposta de Eduardo Viveiros de Castro a uma questão do público durante a mesa de abertura (Modos de Existência) do evento Informação, tecnicidade, individuação: a urgência do pensamento de Gilbert Simondon, ocorrido no IFCH/Unicamp entre 2 e 4 de abril de 2012.

Uma coisa que chama a atenção, muito na antropologia contemporânea, é a súbita paixão que os antropólogos têm agora dentro daquelas três categorias clássicas do signo do Peirce: o índice, o ícone e o símbolo. O índice se tornou uma categoria extremamente sexy. Por quê? Porque ela resolve, digamos, a priori, o problema da relação entre a causalidade material e a significação, visto que o abismo entre a linguagem e o mundo é comodamente resolvido pelo fato de que o signo é produzido pela coisa. O fogo produz a fumaça, então: voilá. Mas Peirce diz que há um resíduo simbólico que é impossível tirar, porque tem muitas coisas que o fogo produz que não são signos de fogo, e tem muitas fumaças que não são produzidas pelo fogo. Portanto, existe um irredutível qualquer aí que temos que resolver. E isso é um problema pra antropologia, porque hoje a semiótica tem que ser material. A materialidade se tornou um novo ideal. Então, o índice se tornou o modelo do signo, o símbolo do signo. O que vai nessa direção de uma tentativa de obturar, de transpor esse abismo – que nós criamos e que, para os índios, não é um abismo. Nós agora estamos tentando refazer os passos, mas já com essa “inocência” perdida que coloca uma série de problemas de má fé, de má consciência. Então, se existe uma coisa que o antropólogo tem é a má consciência como sua sombra.

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Deleuze e Meillassoux, demolição da universidade e filosofia no twitter (Viveiros de Castro 2012)


OBS.: Este post é a transcrição de partes de respostas de Eduardo Viveiros de Castro a questões do público durante a mesa de abertura (Modos de Existência) do evento Informação, tecnicidade, individuação: a urgência do pensamento de Gilbert Simondon, ocorrido no IFCH/Unicamp entre 2 e 4 de abril de 2012.

Repentinamente, as pessoas se deram conta de que a metafísica tinha voltado. Ela, na verdade, voltou antes. Talvez seja o Deleuze a pessoa que ousou retomar a metafísica, recolocar a questão da metafísica em um momento em que nós estávamos dominados pela filosofia da linguagem ou por uma antropologia filosófica geral (enfim, uma celebração da linguagem, o Heideggerianismo frenético). Talvez Deleuze tenha sido o sinal inicial “precursor” (para usar uma linguagem dele), dessa renovação da metafísica.

O Meillassoux vai numa direção muito diferente. Ele é um Badiouiano. Mas é um autor muito interessante pela ousadia, pela coragem de retomar o argumento ontológico, a seu modo (não é assim que ele diz, mas é assim que ele faz), de retomar questões medievais. Eu acho que esse pulo pra trás é um pulo pra frente também. E, sobretudo, atravessar o Canal da Mancha: é uma coisa nova que está acontecendo esse encontro das filosofias de língua inglesa com as filosofias, chamadas, “continentais”. Em parte, eu acho que é em função da demolição da Universidade, em particular nos países Anglo-saxões, em que a filosofia analítica controlava as Universidades.

As Universidades não existem mais, praticamente – isso está chegando aqui também. Acho que isso, do ponto de vista da filosofia, é muito bem-vindo. Enfim, que a filosofia não se faça mais dentro da Academia, porque a Academia acabou. É hora de a filosofia ir para outros lugares. A internet é um ótimo lugar pra ela ser praticada. De preferência, no twitter.

[…]

Talvez a a Universidade seja a instituição mais antiga depois da Igreja – ou melhor, dentro da Igreja. A Universidade é uma forma de monasticismo leigo que está acabando. Finalmente, o mercado tomou a Universidade. É um fato. Eu acho que nós temos que passar a dar aula em casa. Cobrando, é claro.

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O perigo da experiência estética (Laymert Garcia dos Santos 2012)


OBS.: Este post é a transcrição de parte da resposta de Laymert Garcia dos Santos a uma questão do público durante a mesa de abertura (Modos de Existência) do evento Informação, tecnicidade, individuação: a urgência do pensamento de Gilbert Simondon, ocorrido no IFCH/Unicamp entre 2 e 4 de abril de 2012.

Suspeito que a experiência dos xamãs é, ao mesmo tempo, estética e perigosa – não pelo que é descrito a respeito dessa experiência, mas pelo seu grau de radicalidade. Basta pensarmos, por exemplo, na imensa força de desterritorialização da Yakoana e em como um jovem xamã Yanomami precisa aprender a lidar com essa desterritorialização já no início de sua iniciação, quando ocorre o despedaçamento do seu corpo e sua recomposição de um outro modo. Suspeito que existe um perigo muito grande de enlouquecimento aí, se não houvesse um acompanhamento por parte dos xamãs mais velhos e mais experimentados, que vão orientando o iniciando dentro do processo.

No caso do Souriau, o par de termos que ele invoca para qualificar a experiência estética quando ela é efetiva – ou “instauradora”, como ele diz –, é “sublime e perigo”, juntos. Essa impressão estética verdadeira implica uma espécie de ultrapassamento muito radical de si mesmo na experiência, pois se dá no encontro com o real, para além da obra de arte.

Então me parece que, pelo que vejo acontecer com os xamãs, a radicalidade do processo no qual eles entram é inimaginável para nós, acho que a gente não suportaria. O paralelo que eu tentei fazer foi mostrar que, do lado de cá, quando se pensa radicalmente a respeito do que poderia ser algo parecido com isso, o Souriau fornece uma pista dizendo que seria esse “sublime perigoso”.

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Direitos animais e as lágrimas dos objetos (Viveiros de Castro 2012)


OBS.: Este post é a transcrição de parte da resposta de Eduardo Viveiros de Castro a uma questão do público durante a mesa de abertura (Modos de Existência) do evento Informação, tecnicidade, individuação: a urgência do pensamento de Gilbert Simondon, ocorrido no IFCH/Unicamp entre 2 e 4 de abril de 2012.

Eu vejo a questão dos direitos dos animais como um sintoma muito importante da crise (que nós estamos vivendo) da própria noção de humanidade. A priori eu sou – e como poderia não ser – simpático à ideia, ainda que ela me pareça claramente uma ideia limitada. Mas eu acho que ela é parte de uma coisa muito mais geral que envolve essa tentativa de se reindividuar, no sentido simondoniano. Um processo de reindividuação, uma nova individuação que a espécie humana. Para Simondon a individuação é a resolução de um problema de uma determinada incompatibilidade no sentido de gerar uma nova forma. Acho que essa síndrome do pânico metafísico que nós vemos hoje é uma crise extremamente decisiva pela qual a espécie está passando. E é uma crise técnica também, porque o direito é uma técnica política fundamental, crucial.

Estive na França num debate sobre alguma coisa como a invasão da antropologia pelos animais. Claramente, havia uma sensação de desconforto com essa animalização generalizada da antropologia; pessoas (filósofos) que se indignavam com a noção de Direitos Animais, por todas as razões possíveis. Uma pessoa ficou bastante indignada quando eu disse que há alguns séculos houve um Concílio católico que recusou às mulheres a condição de sujeitos de direito. Ela achou a comparação absurda. Mas eu acho que, na verdade, os Direitos animais são parte de um processo de progressivo borramento das fronteiras do que é a humanidade. Talvez o animal e o não animal seja o critério, talvez seja o vivo/não vivo. Mas me incomoda um pouco certo vitalismo. Acho que a noção de “vida não orgânica”, como diria Deleuze, seja um pouco mais interessante. Eu acho que uma das contribuições mais interessantes do pensamento indígena para a filosofia, ou algo que ele compartilha como uma tradição totalmente oculta do pensamento ocidental, é o pampsiquismo: a ideia de que, se o homem é possível, é porque tudo é humano. Ou, como diz Tarde, a inteligência humana é apenas um caso particular do psiquismo. Então, o psiquismo é substrato do real. Essa ideia, que está presente nos índios, não faz distinção entre o vivo e o não vivo nos mesmos termos que nós. Tudo é vivo; mais que isso, tudo é humanizável. Isso me parece ter consequências “para-jurídicas”, pois o direito serve, sobretudo, para negar direitos a alguma coisa ou a alguém. Então, eu pergunto: o que o direito dos animais está excluindo? Eu não sei.

Eu li a seguinte frase em um livro chamado Dreamtime, de Hans Peter Duerr (um estranho antropólogo alemão que valia a pena ser mais lido): “O objeto chora, mas o cientista não ouve as lágrimas”. Ou como diria Latour: “o neutrino reage”. Ou Stengers: “o neutrino desafia o cientista”. O cientista tem que achar um jeito de fazer o neutrino falar, e isso é complicado.

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